Carretel


Carretel,
Cai da minha mão
Rolando pelo chão.
Forma um caminho tortuoso,
Mas eu não escolhi este desenho,
Nem sequer foi com as minhas mãos que eu o fiz.
Carretel,
De linhas emaranhadas, juntadas.
Vermelho, verde
Azul.
Costura torta, fora de moda
Fora de jeito,
Cheia de defeito.
Não assenta,
Ninguém veste.
Parece a peste,
Chegando enganando, violando os sonhos.
Peste...
Nos moldes que a costureira ensinou,
O mundo não quer mais vestir.
Aperta-lhe os braços,
Aprisiona-lhe da liberdade conquistada com as regatas da vida cotidiana.
Refaço os nós desatados,
Recolho os tecidos picados,
Faço uma imensa colcha com meus retalhos.
Nos pedaços mais surrados estão meus amores,
Nas cores os amigos,
Nas bordas inacabadas, a continuidade.
A sua não linearidade, a minha vida.
Que vai, vai...
E ninguém mais vai,
Dizer me onde picota-la.
O artista faz seu trabalho só,
Somente a observação é permitida aos demais.
As sugestões
A arte não precisa delas, ela se faz só a partir das escolhas da poeta perdida,
Em linhas, carretéis, saudades e desabafos.

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