Iglu




Eu sempre gostei dos meus livros

Dos meus escritos
De ser pesquisadora
Do meu canto silencioso

Mas eu sempre soube
Que eu não conseguiria viver num iglu
Numa ilha
Numa montanha inabitada

E cá estou


No meio do nada
Sem ninguém
Pra tomar um chopp
Que chopp? Aqui não tem chopp!

No meio do nada
Sem ninguém
Pra tomar um capucciono e escolher uns livros
Mas que livraria? Aqui não tem livraria!


No meio do nada
Sem ninguém
Que tal um cinema? Aquele filme brasileiro maneiro pra ver...
Mas que cinema?

Mas que barzinho?
Mas que parque?
Mas que exposição?
Show?
Teatro?
Gente?
Novidade?

NADA!

Nada, desesperadoramente nada.

Eu tento, tento desesperadamente cair fora...
Já atirei para todos os lados

Mas como é triste ter que ter um teto e comida não é?
Bom mesmo seria ser pássaro
Estar a qualquer tempo qualquer lugar
Cada sombra uma casa


Bom mesmo seria ser livre.
Imagina que louco ser livre?
Imagina que louco não ter mais que esperar
Poder sair


Ah tanta vida lá fora.

E cá estou.
Num iglu de 35 graus.
Só. E entendiada.

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