Por Italo Lopes



Foi numa dessas férias de verão, num Janeiro que já não encantava tanto como os de outrora e chovia mais que de costume, nessas férias que a gente não espera que aconteça alguma coisa, que apenas colocamos o nosso caminho à disposição do destino. Foi então que a conheci ou pelo menos, foi aí que a percebi de uma forma diferente, inesperada por mim.
Escondidinha atrás do balcão da loja, como se a vida não passasse lá fora, de costas para o mundo que a cercava do outro lado da rua. Seus cabelos finos pareciam esconder propositalmente a beleza que estava além, guardada como uma fonte intangível e inesgotável.
Quando encarei seus olhos pela primeira vez, senti medo e desviei meu olhar para algo qualquer que não deixasse eu me perder pelo brilho sutil e intenso que vinha ao meu encontro. Aqueles olhos carregavam tantas coisas, tantos desesperos e angústias, mas eram tão cheios de vida, profundos como os abismos de contos de fada. Encará-los era preciso mais que vontade, mas coragem. E eu tive, dias depois, depois de passar tantas vezes pela mesma loja só para vê-la, escondidinha atrás do balcão como se a vida não passasse lá fora.
Nos conhecemos numa dessas férias de verão, quando esperamos sem esperanças de que algo aconteça. A vida parecia mais fácil quando podia sorrir só pelo fato de poder vê-la sorrindo. Os dias chuvosos de Janeiro passavam mais rápidos e a chuva não me incomodava mais e todo dia era bonito e ensolarado aqui dentro. E eu ria das piadas mais bobas, e cantarolava pelos cantos, e algo soava como um filme, desses romances hollywodianos sem final, que você assiste e quer assistir novamente, e de novo, e de novo. E tudo parecia um filme porque aquela beleza que todo dia estava lá, escondidinha atrás do balcão da loja parecia cada vez mais distante e ao mesmo tempo tão aqui dentro, tomando espaço, o seu espaço. E foi me invadindo, se derramando pelos meus poros com uma certa facilidade que nem eu compreendia naquele momento.
Foi quando percebi que já não tinha volta. Meus pensamentos não pertenciam mais ao que eu era, mas a tudo aquilo que me ligava à ela. E por mais que eu tentasse negar, vê-la se tornou uma urgência, uma necessidade, como me alimentar ou mesmo respirar. E o seu sorriso, aquele lindo sorriso que me lembrava uma pintura imaginada por Dali, era o calor que não me deixava congelar mesmo com o verão que fazia lá fora. Não que me preocupasse com o que havia lá fora, minha preocupação era entender o que acontecia dentro de mim. E eram inexplicáveis as notas que meu coração gritava.

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