Surto...precoce.

Talvez seja resultado da minha geração. Essa facilidade para surtar mais cedo, com menos tempo. O fato de não ter ninguém para cuidar, de não ter ninguém para sustentar faz com que eu tenha uma vontade tão imensa de chutar tudo a ponta pés.
Se eu gosto de ser professora?
Sinceramente quando eu entro numa sala de aula com uma mochila pesando 10 kilos em livros, revistas, pen drive, filmes, desenhos, etc eu entro pra levar o mundo pra eles. Eu entro e espero que eles me perguntem tudo que possam sobre o tema...Que me ensinem também, que se empolguem e usem a escola para aquilo que ela deveria se propor, aprender e ensinar não necessariamente sempre na dicotomia do professor para com o aluno.
O que eu sinto quando eu entro numa sala de aula...Ansiedade, raiva, as vezes desespero tanto que permaneço encostada no batente da porta como se algo imaginário não me permitisse sair. O que eu recebo quando entro na sala de aula? Alunos falando...Falando e falando e dizendo nada. A escola mostra a podridão da sociedade, vejo violência física e psicológica aos montes, vejo um enumerado de palavrões, vejo adolescentes deprimidos, vejo meninas se prostituindo, vejo meninos vendendo drogas, vejo uma juventude miserável de tudo. Não vejo solução.
Assistência social e psicológica? O governo que contrate profissional pra isso! E missionária o caramba que eu não sou da Ordem Jesuítica!
Existem sim os dias que eu me emociono como quando dei uma caixa de lápis de cor pro meu aluno carente e ele abriu um abraço imenso, quando eles se interessam por algo e buscam aprender sozinhos, quando eles me ouvem contar minhas histórias, quando arregalam os olhos, quando comentam empolgados, quando reclamam que a aula acabou. Eu amo ser professora quando não preciso ser grossa, quando não preciso chamar a atenção de um aluno por má educação. É boom ser professora quando você consegue ser.
Talvez seja preciso ter sangue frio, ou não se importar com nada como alguns dizem...Mas eu não consigo. A escola brasileira é a fábrica de votos dos nossos políticos, crianças e jovens manipulados para votar a favor da corrupção que acontece aos montes dentro das instituições escolares, eles são miseráveis e vão continuar assim porque só assim eles tem serventia. Um governo não instruirá seu povo para derruba-lo.
O professor é uma marionete enganada por aumentos de salários de 0,2% isso depois de muita paulada da polícia na rua, e paulada de aluno em sala de aula. O governo não está nem aí com os professores, nós somos meros marionetes deles também e pior não nos unidos por que muitos temem e muitos desconhecem nosso próprio valor já tão deturpado pela sociedade.
A professora aqui também está cheia de problemas pessoais que envolvem frustrações, família e demais vertentes de nossas vidas. Mas a escola só a quer perfeita em sala de aula, num estado emocional que não fira o Estatuto da Criança ou os sentimentos dos pequenos, já que os meus não estão em pauta momento algum podendo ser agredida sempre.
As minhas aulas devem ser interessantes, tecnológicas, complexas porém claras para que haja um real entendimento. E o meu tempo de trabalho não tem limite, pois lembrando que a minha vida pessoal não existe.
O professor deve:
Trabalhar em casa sem reclamar ( e sem receber).
Deve ouvir agressões psicológicas (sem reclamar pois não ocorrerá nada com o aluno).
O professor não deve reprovar alunos (ideb, prova brasil, olimpíadas de matemática).
O professor tem que repor cada segundo de trabalho que deixar de cumprir (nada de faltar).
O professor deve inserir alunos com dificuldades (esquizofrênicos, surdos, cegos, sem preparo algum e sem estrutura e lhes dê nota!).
O professor tem que ser herói e dar o exemplo de moral e bons costumes.
O professor é um ser humano. Irreal.

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